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  • Foto do escritorFabricius Caravana

O CENTENÁRIO TERREIRO DE PAI FABRÍCIO

104 anos de luta fé e a cultura dos negros no Brasil



De acordo com relatos de médiuns antigos, alguns vivos e outros que já vieram a falecer, a história de nossa casa, “Cabana de Pai Fabrício”, iniciou-se com o Sr.° Custódio de Souza Caravana, em 1914, por intermédio de uma entidade (mentor) espiritual chamada Pai Fabrício, que até hoje coordena nossos trabalhos. Mas que começou mesmo no nascimento de seu pai, em 1867.


Ao nascer em uma fazenda que cultivava cana-de-açúcar e café, como tantas outras, e em pleno regime escravagista, filho de Luiz de Souza Caravana e de Dona Cândida Clara Caravana, que mantinham ideologias abolicionistas, no Sul Fluminense, pelos arredores de Vassouras e Miguel Pereira, parecia uma criança normal. Quando estava com cerca de seis para sete anos, foi diagnosticado com epilepsia, na época doença que considerada incurável.


Em certa ocasião, ao ter uma das crises perante um negro, que com a sua vinda para o Brasil, fora registrado pela igreja católica, como era comum na época, por Fabrício, e devido aos conhecimentos que trouxe da áfrica, tinha o dom de curar através de fórmulas e porções, vendo a situação do menino, mencionou que “poderia curá-lo”.

De início o negro foi rechaçado pelo Sr.º Luiz, (pai do menino), mas devido as constantes crises, Dona Cândida, pediu a seu marido que deixasse o negro, cuidar de seu filho, então se dirigiram até ele e lhe pediram, mas o negro pediu em troca, que deixasse o menino mais tempo com eles na senzala, para que pudesse aprender o que ele conhecia, o que foi aceito, e assim o menino passou a estar sempre no meio dos negros e ser querido por todos.


Alguns anos depois, o negro veio a falecer, assim como seus pais, e ele com a abolição da escravatura, a divisão das terras pelos herdeiros, diminui o patrimônio adquirido pela família, passando então a se valer de seus conhecimentos, e mais tarde passou a manifestar o espírito de Fabrício, proporcionando curas pela região, tendo inclusive ganho o codinome de “ Grumenta do Alto da Serra”, fazendo as suas intervenções espirituais desde Vassouras, passando por municípios conhecidos atualmente por Miguel Pereira, Paraíba do Sul, Paty, Nova Iguaçu, Queimados, chegando a Senador Vasconcelos e Madureira.


Um fato relevante na época, também marcou a presença desta família no Brasil, principalmente na Baixada Fluminense. Naquela época (ano) os trens não paravam na estação de Madureira e por seu intermédio, foi providenciado que a composição fizesse parada ali, conforme noticiado na edição de 1939 do Jornal Rio Ilustrado.


Existem outros fatos registrados e documentados sobre a história deste homem, que tratava o espiritismo com muita seriedade e sendo bem influente em todos os meios, sempre procurando ajudar os mais necessitados.



Em 1939 o Sr. Custodio de Souza Caravana, pouco antes de falecer, transferiu para o seu filho, Custodio de Souza Caravana Filho, a liderança da Cabana de Pai Fabrício, gerando grande ciúme entre os irmãos e médiuns mais antigos da casa. O mesmo aconteceu com seu filho, bisneto de Custódio de Souza, sendo o caçula entre os irmãos, ao receber a Cabana localizada em Queimados em 1988.


Durante o período que esteve materialmente na terra, o filho e sucessor Custódio de Souza Caravana Filho, sempre lutou pela religião, inclusive na época da perseguição religiosa, não escondeu suas convicções, como muitos fizeram, e chegou a ser detido pela polícia. No entanto, logo foi libertado devido ao reconhecimento de seu trabalho. Ele então continuou sendo respeitado.


Em sua longa jornada, Custódio Caravana Filho dirigia quatro casas: Cabana Espírita de Pai Fabrício – Em Queimados; Tenda Espírita São José das Pedras, Vassouras; Tenda Espírita São Jorge, Três Rios e Tenda Espírita Nosso Rancho, Lima Duarte /MG, durante 55 anos de sacerdócio espiritual.


Custódio de Souza Caravana (Pai) não tinha por hábito, direcionar os seguidores por estar sempre em movimento, ao contrário do filho (Custodinho) que tinha o carinho e cuidado de direcionar a vida espiritual e material de seus filhos de santé, apesar de nunca ter sido taxado de Pai de santo, e sim de Padrinho, e mantinha as quatro casas, com mais de 2 mil filhos de santo.


Nas sessões grandes, sempre se reuniam mais de 300 médiuns na prática do bem e do amor ao próximo. Mesmo após seu falecimento, em 1988, os terreiros de Queimados (Cabana de Pai Fabrício), Vassouras (Tenda Espírita São José das Pedras) e Três Rios (Tenda Espírita São Jorge) , se mantém com o mesmo trabalho de outrora. Apenas o terreiro de Lima Duarte foi fechado porque um dos filhos, Alfredo não quis assumir a casa por ficar em outro estado e ele teria que mudar-se com toda a família e filhos para lá.


A gira oficial da Cabana de Pai Fabrício tem esta entidade: Pai Fabrício, na condição de mentor, direcionando as doutrinas, que por estarem próximas as praticadas na Umbanda, também foram inclusas nas doutrinas da casa. Hoje cada casa também tem o guia do dirigente na liderança espiritual, que busca por em pratica tudo aquilo que foi passado pelo mentor espiritual Pai Fabrício, resgatando também as antigas tradições deixadas pelos negros da fazenda de Custódio de Souza Caravana, onde residiu o negro curador Fabrício. Este continha imenso conhecimento, com muita objetividade mantendo o lema de Caridade, Fé, Esperança, Amor e Trabalho. Direcionando sempre a luta de fazer o bem, sem olha a quem.


Música cantada em homenagem ao mentor espiritual das casas de Pai Fabrício

“ Pai Fabrício, Olhai seus filhos,

Pai Fabrício, vem nos ajudar,

Salve seus filhos de pemba Pai Fabrício,

Na fé de Oxalá”.


RAIZES DA GIRA DE PAI FABRÍCIO


A origem da gira de “Pai Fabrício”, é difícil de definir, pois existe uma grande variedade de procedimentos que seguem a cultura do negro no Brasil. No entanto, a casa segue algumas vertentes, passadas antes da década de 1950, como o culto aos orixás. Praticava-se ainda as curas e rezas, trabalhos de atendimentos com guias, espíritos iluminados, como o próprio Pai Fabrício que incorpora até hoje nos guias dirigentes de suas casas para passar suas mensagens e realizar curas.


Na década de 1950, as casas já dirigidas pelo Mestre Custódio Caravana Filho começou a sofrer forte influência dos Orixás, e com isto, desenvolver danças e cantigas, muitas criadas pelo médium Jairo. Com o passar dos anos essa cultura africanista foi se expandindo.


Atualmente as Casas de Pai Fabrício, existentes há 104 anos no Rio de Janeiro, se aproxima muito da Umbanda Omolocô, pela forte ligação com alguns rituais dos Cultos de origem Africana. Característica muito presente, principalmente na Cabana Espírita de Pai Fabrício, dirigida por Fabrícius Custódio Caravana (neto).


Fabrícius nascido e criado dentro da religião, foi batizado no santo aos sete anos de idade e lidera a casa de Queimados há cerca de 30 anos. Ele conta que depois do falecimento de seu pai Custodinho, buscou durante algum tempo, as doutrinas e ensinamentos, correndo caminho, e se aprofundando mais na cultura africanista para que na liderança da casa, soubesse interpretar os cantos, rezas e todos os procedimentos deixados por seu pai e avô:


“No culto Omolocô aprendemos que existem três tipos de manifestação mediúnica de incorporação. Definidas pelo grau de consciência que o médium possui quando mediunizado, por exemplo”, explica.


Na irradiação intuitiva - mais conhecida como mediunidade de incorporação consciente, algumas escolas defendem que ela seja um tipo de mediunidade de incorporação, e que é atinente às demais manifestações de mediunidade, como a psicografia etc. No culto Omolocô, este tipo de mediunidade incorporação é chamada de “angelical”, pois é a que mais se aproxima da realidade dos dons naturais na visão e da intuição espiritual perdidos na época da degeneração da raça Atlante. A sua principal focalização é perpendicular ao nível do terceiro olho, entre as sobrancelhas. No caso da irradiação intuitiva a consciência do médium em relação ao que lhe acontece no período da incorporação é total.


Semi-Inconsciência: Neste tipo de incorporação, a consciência do médium é vacilante. Ora, tem consciência total no que esta ocorrendo, ora não. É um estado muito parecido com o sonho. Muita vezes, o médium desperta tendo inteira consciência do que aconteceu no transe mediúnico, bastando-lhe alguns minutos despertos para não conseguir se lembrar com nitidez, chegando ao esquecimento total. É uma consciência fragmentada, com o foco aberto entre o terceiro olho o ori, na altura do posicionamento da glândula pineal.


Incorporação inconsciente: Neste caso como o próprio nome revela, é o estado de incorporação em que a consciência do médium é reduzida a zero. Sua focalização e perpendicular ao alto da cabeça, com o seu foco cobrindo completamente o ori do médium.


Para o culto Omolocô: 25% dos médiuns conscientes, 20% semi-inconscientes e 55% possuem inconsciência total.


A tradição Lunda-Quioco (Omolocô) cultua a natureza através de suas energias, que possuem suas expressões máximas nos BACUROS ou INKICES, ao lado do culto das almas (ANCESTRAIS) ou os antepassados (através da mediunidade). Livro em andamento.

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